sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

[BAÚ DO CENTRAL] Central de Caruaru – O melhor time pernambucano de 1936.


Os anos passam e as glórias do passado vão ficando em um cantinho qualquer, escondidas, perdidas no decorrer do implacável tempo. Poucos, pouquíssimos sabem do feito desse time aqui falado, que honrou o nome de Caruaru, à época, uma cidade que tinha pouco mais de 70 mil habitantes e que não decorria vinte anos da iluminação elétrica pública. 

O Central de Caruaru em 1936 recebeu o Vasco da Gama, Campeão Carioca e que tinha de maneira impiedosa, vencido ou goleado os integrantes do trio de ferro da capital e também derrotado a seleção pernambucana. Na mente de todos, outra goleada se avizinhava, mas não foi o que ocorreu, no final da partida, 1x0 para o time carioca, graças a anulação ilegítima de um gol de Tutu, com direito ao árbitro, detalhe, árbitro do Vasco da Gama que acompanhava o time cruz-maltino, terminar o jogo dez minutos antes em momento de grande pressão alvinegra, por suposta “falta de luz natural” . Da excursão carioca, a surpresa tomou conta da capital, quem era esse time, dessa pequena cidade interiorana, tão distante da capital, que tinha forças para vencer um Campeão do Sudeste do País? 

Não demoraram os convites. Pernambuco, naquela época, possuia um time que suplantava os três da capital, um time valoroso que conseguiu um feito que até hoje jamais foi igualado: o bicampeonato pernambucano invicto e consecutivo. Esse era o Tramways Sport Club. O “quadro” que passou dois anos sem ser derrotado no campeonato pernambucano e que também fora o único em Pernambuco que vencera o lendário Vasco da Gama de 1936. A importância do embate era inegável, a delegação alvinegra que se dirigia a veneza pernambucana era ovacionada nas estações de trem que ia passando, Bezerros, Gravatá, Vitória, Moreno, a população local parava seus afazeres e corria para aplaudir e incentivar o time do agreste na sua passagem.

Às 18 horas chegava com extrema pompa a equipe para o “prelio”. A cansativa e longa viagem ferroviária era o único meio de transporte existente entre Caruaru e a Capital na época, e depois de muito tempo, chegaram os “embaixadores” do alvinegro caruaruense à capital. O comentário comezinho na capital era que a derrota se faria inevitável, muitos davam até quatro “goals” de vantagem e tudo contribuia para isso: a longa viagem de trem, a invencibilidade do Tramways, o desconhecimento do campo da jaqueira - local do embate - e outro fator: jogar no período noturno, sob a luz dos refletores, fato inédito para a equipe patativa. 

Arquivo: Sérgio Pepeu (Elenco alvinegro de 1936 na chegada á Recife).

A “squadra” do Central formou com Pedro; Néco e Trajano; Teonilo, Otoniel e Joaquim; Alemão, Zé Dantas e Zuza; Tutú e Zé de Nané. Os “invictos” se apresentaram com Rubens; Domingos e Moacir; Zezé, Paisinho e Furian; Alcides, Bermudes e Carreiro; Quetreco e Olivio. 

Às 20:45 horas da quarta-feira, 16 de setembro de 1936, o árbitro Manoel Pinto apitava o início da partida. Carreira movimentava o “Couro” e, logo de início, forte ataque dos “elétricos” contra a patativa, Bermudes chuta forte a “pelota” resvala em Otoniel, enganando Pedro e caindo no fundo da rede centralina. Um minuto de jogo, 1x0 para o Tramways. 

Nova saída de bola, imediatamente roubada, Furlan avança e chuta a quase queima roupa para uma sensacional defesa do arqueiro centralista Pedro. O Tramways parte com tudo para o ataque e a zaga do Central tenta se defender de todas as formas, após dois escanteios consecutivos sem maiores resultados, surge o primeiro ataque alvinegro por meio de Alemão, sem muito resultado. Nesta hora, a aguardada espera de um grande resultado para os “elétricos” parece uma quase certeza. Porém, passado o susto inicial, o Cental começa a se portar melhor, tocando a bola, o ataque centralista obriga Moacir a jogar a bola para escanteio em perigosa jogada aos 11 minutos da partida.

E segue-se um momento em que os ataques dos visitantes e dos locais se revezam, com boas chances para ambos. Às 21:16 horas, Bermudes, grande craque do time recifense não perdôa e em outro chute forte faz 2x0 para os locais. 

O Central procura reagir e não se entrega, atacando seguidas vezes. Eis que aos 35 minutos do primeiro tempo, o esforço alvinegro é compensado: Tutu, recebe a “pelota” da ala esquerda, dribla os zagueiros dos elétricos e enfia sem piedade! É gol, gooool do alvinegro patativa! A “assistência”, como era chamada a torcida, aplaude efusivamente o belo gol do nosso grande craque. Seguem-se mais alguns minutos de partida e o jovem Braga entra no lugar de Zé Dantas. 
O Central, apesar do placar desfavorável, 2x1 para os “elétricos”, já mostrava a sua qualidade equilibrando a partida, arrancando aplausos e gritos entusiasmados da “assistência” e, dessa forma, termina o primeiro “half-time”. 

Às 21:35 horas, começa o segundo tempo do jogo, alterações tanto nos “transviários”, como na Patativa do Agreste. Tutu recua para o meio campo, Edmilson entra no ataque no seu lugar, saindo Otoniel. A modificação é essencial para a melhora do time. O Central toma conta do jogo, aluga o meio campo e bombardeia o gol de Rubens. Pela direita, Braga e Alemão pintam miséria, dribles seguidos e a torcida começa a trocar de lado, avacionando os caruaruenses. O Central é o dono e senhor do gramado da Jaqueira. Zé de Nane disparara e passa para Braga, este, com um drible sensacional, deixa o zagueiro “elétrico” para trás e dispara a “pelota” para os fundo da rede! Gooooooooooooooool do Central. É o empate do jogo. 2x2.

O time caruaruense se empolga, toca a bola e coloca o Tramways na roda. A pressão é incrível, todo o meio campo dos “transviários” recua para ajudar a defesa, o o time local faz três substituições de uma vez: sai o goleiro Rubens, entra Zé Miguel; Carreiro é trocado por Maturano e Olivio por Chinês. Pouco importa, o Central continua melhor em campo e atacando a todo momento. Edmilson, com agilidade recebe de Zé de Nane, entra rápido e com um lindo chute marca mais uma vez! GOL! O Central vira para 3x2 sob o olhar estupefato da torcida recifense.

O Central não recua, ataca seguidas e seguidas vezes, quatro escanteios consecutivos e diversos arremates. No contra-ataque, porém, os “elétricos” chutam na pequena área após Chinês receber passe de Maturano mas Pedro segura a bola, sem deixar rebote. O contra-ataque não modifica o quadro da partida, Braga, Tutu, Edmilson, Zé de Nané em rodízio, praticam diversos chutes com defesas sensacionais de Zé Miguel, goleiro do Tramways.

Os jogadores do time recifense perdem a cabeça e com muita violência, propositadamente, machucam o jovem atleta centralino, Joaquim. Ferrer entra no seu lugar. Novo ataque alvinegro patativa, pela esquerda, Zuza da uma “finta” sensacional em Domingos e balança as redes de Zé Miguel. Gooooooooooooool, Golaçoooo! O Central faz 4x2 aos 34 minutos do segundo tempo!

Logo na saída de bola, o Tramways vai para o ataque, Chinês arremata e por volta do 36 minutos, desconta para o time recifense. Pedro se machuca no lance, sem mais jogadores, o Central fica com dez em campo e é obrigado a ver seu Zagueiro Trajano a ir para o Gol. Os “elétricos” partem desesperados em busca do empate...em vão. O Central fecha os espaços e derrota os “invictos”em sua própria casa por 4x3.

O retorno, no dia posterior, é de festa em Caruaru, a banda de música “Comercial” esperava na estação ao lado de grande parte da população caruaruense. Uma passeata se seguiu na Rua do Comércio, os atletas acompanhados de uma multidão sem precedentes na História da pequena cidade de Caruaru. As congratulações findaram após um “soirée” dançante no salão de bailes do Central de Caruaru, sob os auspícios do Presidente Alvinegro José Victor de Albuquerque.

O feito do Central de Caruaru correu o Brasil, inclusive tendo sido enviado um telegrama pela direção do Vasco da Gama, Secretário Ernesto Gomes, em 30 de Setembro do mesmo ano, com congratulações pela vitória contra a forte esquadra do Tramways, “dando uma demonstração pujante do valoroso quadro de futebol desse Clube Amigo”.

Ainda nesse ano o Central foi convidado para jogos contra Santa Cruz, Náutico e Sport, tendo vencido todos, boa parte da imprensa recifense passou a chamar o Central de Caruaru como “o melhor time pernambucano de 1936”. O Alvinegro pavimentava a sua entrada no Campeonato Pernambucano de 1937.

O Tramways, inconformado, pediu uma revanche contra o glorioso Central de Caruaru, mas isso e as vitórias contra os integrantes do trio de ferro recifense, são outras Histórias a serem contadas...

Por Sérgio Pepeu, em especial para o Blog Movimento Coração Alvinegro.

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